terça-feira, 3 de novembro de 2009

DOMINGO ESPETACULOSO

TV aos domingos não presta. Porém é importante assistir esporadicamente para não esquecer disso. Foi o que eu fiz nesse último fim de semana. Estava na casa da avó do meu marido. No ar: Domingo Espetacular, uma espécie de Fantástico não global.

Enquanto Gabriel, meu filho de dois anos, brinca com os primos, eu, deitada no sofá, vejo o prezado jornalista Gerson de Souza narrando a história da menina que, com apenas 14 anos, se tornou mãe de trigêmeas. Horrorizada não só com o fato, mas com a maneira que ele foi abordado, passei a me perguntar qual era a real função daquela reportagem.

Era uma menina franzina, miúda, rosto de criança, olhar ingênuo de rapariga do interior. Mal sabia utilizar as palavras e permaneceu boa parte da matéria com as mãos no bolso, cabeça para baixo e sorriso sem graça. O jornalista tratava o acontecimento em tom de festa. Descobriu que a avó e a bisavó dos bebês também tiveram filhos com quatorze anos. Praticamente uma tradição na humilde família da periferia de Foz do Iguaçu.

Será que ninguém percebeu a gravidade da situação? Todos os dias, meninas com menos de quinze anos se transformam em mães no Brasil. São crianças cuidando de outras crianças. Isso é problema social e caso de saúde pública. Não é algo lindo: é um alerta. A política de planejamento familiar possui falhas e não está chegando onde deveria ou da forma que deveria. Me parece que esse mote foi esquecido.

Eu, que só queria saber qual era a função de uma reportagem tão séria ser tratada de forma tão banal, conclui que foi apenas uma matéria para me lembrar que TV aos domingos não presta.
H.E.

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